quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Michel Waldmann - Paraísos perdidos

por
João Lopes

Expresso, 7-11-1992



Teatro Rosa Damasceno (Santarém). 1990/91.


Coisas boas em jornais

Michel Waldmann é um fotógrafo belga que residiu em Lisboa durante alguns anos. Trabalhou como fotógrafo oficial da Fundação Europália (grande festival cultural realizado na Bélgica, que em 1991, teve Portugal como país-tema). Entre 1990 e 1991 fez em fotos, um fabuloso inventario de Cinemas, Teatros e Cine-teatros de Portugal, tendo percorrido o país de norte a sul. Falta dizer, que passados vinte anos, muitas destas salas foram recuperadas. Mais tarde irei colocar as restantes fotos de Michel Waldmann.


Cine-Teatro de Mealhada, (Cine-Teatro Messias). 1990/91.


FOI com o filme Cinema Paraíso, do italiano Giuseppe Tornatore, que a paixão pelos velhos cinemas se transformou em símbolo decadente das transformações por que tem passado o cinema e o seu consumo. Que o filme não passasse de um melodrama banal, muito distante das glórias do género, eis um pormenor que não exclui o reconhecimento de que Tornatore sabia tocar uma nota sensível da actualidade audiovisual: a degradação, ou mesmo a perda, dos lugares tradicionais de acesso aos filmes, à sua sedução e aos seus mundos imaginários.



Cine-Teatro de Montemor-o-Novo (Cine-Teatro Curvo Semedo). 1990/91.


É desse desencanto que testemunham também estas imagens assinadas pelo belga Michael Waldmann. Fazem parte de um conjunto de 40 fotografias a preto-e-branco — «Cineteatros, a arqueologia do presente/ausente» — expostas, (...), em Coimbra, no âmbito dos 120 Encontros de Fotografia. A sua lógica pouco ou nada tem a ver com a celebração de um tempo outro, eventualmente marcado por uma relação ideal com o cinema. Não há nostalgia nestas visões porque não há vida social (nem ressonância mitológica) que as venha contaminar. Waldmann fotografou as salas do nosso país, menos como sinais de uma existência colectiva que nelas reconhecesse um espaço privilegiado de reunião, e mais como objectos culturais não identificados, ruínas austeras, por vezes agressivas, de uma história a que já não pertencemos. Talvez sejam isso mesmo as velhas salas: símbolos de uma relação com o cinema que, por boas e más razões, já não podemos repetir.



Cine-Teatro de Mértola (Cine-Teatro Marques Duques). 1990/91.


Vem a propósito lembrar que essa relação, o seu significado e a sua possível herança, é também uma questão vital do actual estado de coisas do cinema em Portugal. Mais concretamente: que salas preservar, como e para quê? Estas fotografias contêm, pelo menos, uma resposta: a degradação e o aniquilamento (havia, em Lisboa, um cine-teatro chamado Monumental...) chegaram longe de mais.
Em termos práticos, ou melhor, institucionais, vive-se uma conjuntura de algumas respostas imediatas e de poucas, ou nenhumas, alternativas globais. 



Cine-Teatro da Golegã (Cine-Teatro Gil Vicente). 1990/91.


A SEC, o IPC e a Direcção Geral de Espectáculos estão a pôr em prática um projecto de apoio a redes de infra-estruturas culturais. Verba disponível: 200 mil contos mais a colaboração local das autarquias. Para António-Pedro Vasconcelos, coordenador do Secretariado Nacional do Audiovisual, importa favorecer respostas mais globais, capazes de articular o apoio às salas com o reactivar da distribuição independente e a redefinição dos mecanismos de concorrência no mercado dos filmes. São temas em aberto, cujos fantasmas as imagens de Waldman expõem com a justeza de um olhar que sabe que está a perder os seus objectos eleitos.

JOÃO LOPES
Expresso, 7-11-1992


Cinema Esplanada Vista Alegre em Beja. 1990/91.


Cine-Teatro de Ílhavo (Atlântico Cine-Teatro). 1990/91.


Cinema Império em Lisboa. 1990/91.


 São João Cine (Cine-Teatro São João e agora Teatro Nacional São João). 1990/91.


Cinema Lys depois Roxy. 1990/91.


«Michel Waldmann, nasceu em 1950 em Bruxelas, Bélgica. Vive em Lisboa, Portugal. Estudou fotografia na I.N.R.A.C.I., Bruxelas. Fotojornalista free-lance. Exerceu também, durante os anos, 60, 70 e 80, como Técnico no teatro e no cinema: (régie som e luz, cenários e adereços, luzes, registo de som, câmera e projeções . Fotógrafo oficial da Fundação Europália Internacional para: Europália 87 Áustria, 89 Japão, 91 Portugal e 93 Mexico. 1976-77-78, trabalha em Israel: Fotografia submarina da fauna e flora do Mar Vermelho, 1982-1995, Trabalha com Les Baladins du Miroir: história e vida de um grupo de teatro ambulante, 1984, Trabalha dois meses na Noruega: os cemitérios marítimos dos grandes barcos petroleiros depois do segundo choque petrolífero e a reabertura do Canal do Suez. 1993, Trabalha dois meses em Moçambique: a vida social, o comércio, os campos de desarmamento da ONU, um ano após o fim da guerra colonial e um ano antes das eleições democráticas. 1994, Trabalha na Índia: os pequenos ofícios e a vida social nas ruas de Bombaim, Goa e Cochim. Desde 1997, Trabalha vários meses por ano em Portugal: as mudanças na vida social, política e religiosa, a paisagem, a arquitetura  o comércio, as artes, etc...» (texto de 31-03-2006, encontrado no Arquivo Fotográfico da CML)



(Fotos de Michel Waldmann copiadas do jornal Expresso)




segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Joshua Benoliel - Teatros e Cinemas


Teatro Fantástico. Ficava na rua Jardim do Regedor e teve vários nomes ao longo da sua existência. Segundo Manuel Félix Ribeiro: Salão Fantástico; Paradis Cinema: Salão Rubi e voltando a chamar-se Teatro Fantástico pouco antes de desaparecer de cena definitivamente (1918?). Início sec. XX.  Joshua Benoliel. 


Animatógrafo Paraíso de Lisboa. Ficava na rua da Palma, perto do Real Coliseu de Lisboa. Por cimo da porta consegue-se ler o nome. Legenda da foto: Homenagem aos mortos da República, o Estado Maior da Armada e forças da Marinha a caminho do cemitério do Alto de São João. 1912. Joshua Benoliel.


Antigo Éden Teatro nos Restauradores. Legenda da foto: Chegada de um raid internacional. 1905. Joshua Benoliel.


Chiado Terrasse ao fundo, visto do Chiado. Legenda da foto: Funeral do embaixador do Brasil, Francisco Regis de Oliveira. 1916. Joshua Benoliel.



Chiado Terrasse. Fotos anteriores a 1911. Joshua Benoliel.


Chiado Terrasse em 1911, já com a torre mais alta e a fachada renovada.
Chiado Terrasse, carro de propaganda. 1911. Joshua Benoliel.


O Salão Ideal (filial). Legenda da foto: Feira de Santos. Na foto consegue-se ler: filial da rua do Loreto. 1915. Joshua Benoliel.


Teatro Júlia Mendes. Legenda da foto: Feira de Agosto no parque Eduardo VII. 1910. Joshua Benoliel.


Teatro Nacional D. Maria. Legenda da foto: Eleições em Lisboa. Regimento de Cavalaria 2. Lanceiros da Rainha defendem a ordem pública. 1908. Joshua Benoliel.


Antigo Cinema Condes. Legenda da foto: Parada militar em honra dos militares vitoriosos da Primeira Guerra Mundial. 1918. Joshua Benoliel.


Rossio Palace no Largo de São Domingos, animatógrafo que existiu no segundo andar do prédio do meio, onde diz: A Casta Joana, que devia ser o nome de uma peça de teatro.  Legenda da foto: Mercado seiscentista, reconstituição de época. Anterior a 1914. Joshua Benoliel.

Segundo Manuel Félix Ribeiro: «Uma particularidade ainda de apontar - frequentes vezes havia, logo após os espectáculos nocturnos normais, sessões especiais com filmes pornográficos...»


Cinema Olympia. Início sec. XX. Joshua Benoliel. 


Teatro D. Amélia. Início sec. XX. Joshua Benoliel. 


Teatro República, antigo D. Amélia. Mudou de nome com a implantação da República em 1910. Posterior a 1910. Joshua Benoliel. 


Salão Central. Legenda da foto: Palácio Foz, legação dos Estados Unidos da América. 1909. Joshua Benoliel.



Teatro da Avenida. Início sec. XX. Joshua Benoliel.


Salão Chiado. Existiu numa das portas dos Grandes Armazéns do Chiado (onde estão as letras pintadas) e durou pouco tempo, tendo desaparecido em 1908. Legenda da foto: Cortejo a caminho do Paço de Belém e das legações dos países aliados, para festejarem o final da Grande Guerra. 1918. Joshua Benoliel.

Segundo Manuel Félix Ribeiro: «...estava instalado na parte do edifício que se situa na Rua Nova do Almada, logo no começo, sensivelmente onde hoje está localizada a secção de brinquedos daquela popular casa comercial.» Nota: Se bem me lembro, a entrada da loja dos brinquedos era a porta tripla, onde hoje existe um hotel.



Teatro da Trindade, entrada principal no Largo da Trindade. 1909/1911. Joshua Benoliel.


Teatro da Trindade, entrada na Rua Nova da Trindade. 1909/1911. Joshua Benoliel.

Construção do Cine-Teatro Éden. Legenda da foto: A delegação do Barreiro desfilando na praça dos Restauradores. 1935-02-10. Não tenho a certeza se esta foto é de Joshua Benoliel. No Arquivo da Torre do Tombo, não dizia a autoria, só que era do Jornal O Século, onde Benoliel trabalhou.


(Fotos do Arquivo Fotográfico da CML excepto a última)



domingo, 25 de novembro de 2012

Graham Greene - Na mansão do prazer


por
Manuel S. Fonseca
Expresso 13-04-1991



Coisas boas em jornais

The Pleasure Dome: Colectânea de críticas de cinema de Graham Greene,1935-1940.


FUGIR, escreveu ele. Graham Greene fugia muito. Cada fuga, hora e meia, e o abrigo era sempre o mesmo. Mansão de prazer, chamava-lhe; todos os cinemas de Londres, acrescentamos nós. Em quatro anos e meio, entre 1935 e 1940, ficaram registadas cerca de 400 fugas.
O «registo» é, preferencialmente, o «The Spectator», a revista onde Graham Greene publicou as recensões desses filmes para onde fugia dos tormentos infernais por que passava quando tinha que dar vida ao personagem secundário de um romance, ou quando queria chegar à boa construção de um capítulo. Era, como escreveu no prefácio de Pleasure Dome, livro que reúne esses seus textos, «a fuga por hora e meia à melancolia que inexoravelmente tomba à volta do romancista quando ele viveu meses demais no seu mundo privado».



A Revolução Cubana tinha começado em Janeiro de 1959. A foto é de Abril e alguns casinos ainda funcionavam. Em pé, Noel Coward e Graham Greene. Sentados da esquerda para a direita: Carol Reed, Alec Guinness, Maureen O'Hara, Ernie Kovacs e Jo Morrow. Foto de Peter Stackpole em Havana, Cuba, 1959, durante as filmagens de O Nosso Homem em Havana (Our Man in Havana, 1959) de Carol Reed.


Graham Greene descobriu-se crítico de cinema quase por acaso. «Depois do perigoso terceiro Martini», se quisermos acreditar na sua versão. Nessa altura, Greene achou-se capaz de preencher o que considerava uma lacuna do «Spectator», a falta de tratamento do cinema.
Mas Greene já tinha culpas anteriores no cartório. Em Oxford, constituíra-se crítico de cinema do «Oxford Outlook», uma revista literária de que ele mesmo era o editor. A essa conspícua actividade deve somar-se a sua veneração por uma publicação tão elitista quanto fascinante, a saber, a revista «Close Up», que Kenneth Macpherson editava a partir do seu «château» na Suíça. (Dessa revista rara, a Cinemateca possui uma colecção preciosa na sua Biblioteca; e de Kenneth Macpherson foi já exibido, também na Cinemateca, Borderline, um filme singular na sua relação com as vanguardas artísticas do final dos anos 20).
Era exactamente aos anos 20 que Greene devia a formação do seu gosto cinematográfico. Não admira, por isso, que os seus textos tenham começado por reflectir um vincado preconceito contra a utilização do som, a que sucedeu, mais tarde, o preconceito contra a cor — esta mesma «reacção humanista», à introdução de novas tecnologias no campo artístico, pode hoje observar-se nas terríveis batalhas contra o audiovisual propostas pelas Vestais de um pretenso cinema puro.


Graham Greene conversando com Alec Guinness em plena Revolução Cubana que tinha começado em Janeiro de 1959. Foto de Peter Stackpole em Havana, Cuba, Abril, 1959, durante as filmagens de O Nosso Homem em Havana (Our Man in Havana, 1959) de Carol Reed.


Da actividade crítica de Graham Greene o que apetece guardar, antes de mais, é a sua feroz ironia — que lhe valeria, de resto, pesada pena fiduciária no «caso Shirley Temple», que adiante se relata. Digna de registo é, também, a tendência para as digressões na primeira pessoa, digressões que, por vezes, ganhavam um carácter autónomo relativamente ao filme comentado. Uma das mais saborosas, por se ligar às convicções religiosas de Greene, talvez seja a que subscreveu na crítica a The Garden of Allah, filme em que o renegado monge trapista que é Charles Boyer renúncia ao amor de Marlene Dietrich para regressar ao mosteiro.
A cena de despedida suscitou-lhe este comentário: «Alas! minha pobre Igreja, tão pitoresca, tão nobre, tão sobre-humanamente piedosa, tão intensamente dramática. De facto, prefiro a versão do ‘News Statesman', padres mesquinhos a contar pesetas pelos dedos, em cafés encardidos, antes da acção de graças».
Da sua feroz ironia, o melhor testemunho é o caso Shirley Temple. Em Agosto de 1936, Greene, comentando Captain January, de David Butler, espetara a primeira farpa. Primeiro começava por reconhecer à pequenina menina-prodígio um imenso vigor e segurança, tanto na representação como na dança. Acrescentava a seguir que, no entanto, a «sua popularidade parecia residir numa coqueterie tão madura como a de Claudette Colbert e num corpo, peculiarmente precoce, tão voluptuoso nas suas calças de flanela cinzenta como o de Marlene Dietrich». Um ano depois, e desta vez na revista «Night and Day», Greene escreveu sobre Wee Willie Winkie, um filme de Ford protagonizado pela mesma Shirley. Semeou ventos e colheu a tempestade que uma legião de advogados, da 20th Century Fox e da própria Shirley Temple, lhe fizeram cair em cima. Na opinião dos juízes que julgaram o caso, a crítica de Greene era «um dos mais horrendos libelos que alguém poderia imaginar». Por causa dessa «beastly publication» (a opinião é ainda dos juízes e dá em português a colorida expressão «texto animalesco»), Greene e a «Night and Day» tiveram que pagar pesadas multas à companhia e à actriz. O texto foi interdito e, por essa razão, não consta da recolha das críticas do escritor, nem pode ser citado na Imprensa inglesa.


Graham Greene engraxando os sapatos em Havana, no inicio da revolução cubana. Foto de Peter Stackpole em Havana, Cuba, Abril, 1959, durante as filmagens de O Nosso Homem em Havana (Our Man in Havana, 1959) de Carol Reed.


Do conjunto das críticas que publicou entre 1935 e 1940, podem compulsar-se algumas ideias recorrentes sobre o que Greene entendia dever ser o cinema. E, segundo ele, devia antes de mais ser uma arte de massas, dando às pessoas o mesmo que o teatro isabelino lhes dera no passado, «as tragédias violentas e universais que elas compreendem».
Defensor de um «cinema poético», Greene sempre entendeu o realismo como premissa indispensável desse cinema. Na crítica aos Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, pode inferir-se claramente o alcance que atribuía aos conceitos de «poesia» e de «realidade»: «Chaplin tem, como Conrad, algumas `pequeninas ideias simples' que podem ser expressas pelos mesmos termos — coragem, lealdade, trabalho — contra o mesmo fundo niilista de sofrimento sem finalidade. `Mistah Kurtz — he dead'. Essas ideias não são suficientes para um reformador, mas provaram ser amplamente suficientes para um artista».
Raramente reconheceu a Hollywood aquilo que reconheceu a Chaplin, quase sempre se queixando que o cinema americano tinha tendência para envolver a realidade em celofane, sem esse «sentido adulto» da arte que dizia entrever na Kermesse Héroique do francês Jacques Feyder. Mesmo assim, soube pôr em evidência as qualidades de John Ford (chamando-lhe «um dos melhores realizadores deste tempo», logo que viu Stagecoach e Young Mr. Lincoln), de Frank Capra (não sem separar o trigo de Mr. Deeds Goes to Town e Mr. Smith Goes to Washington do joio que o desiludia em Lost Horizon). Como soube ver e sublinhar que alguns dos génios alemães, convidados para Hollywood nos anos 30, tinham afinal beneficiado com as condições que os grandes estúdios colocaram à sua disposição, caso de Ernst Lubitsch e de Fritz Lang, cujo Fury saudou, em 1936, afirmando ser «o único filme ao qual quereria associar o epíteto `grande'».



John Ford sentado, dá instruções a Shirley Temple no filme, "Shirley, Soldado da Índia" (Wee Willie Winkie, 1937). Foto de moirasthread.blogspot.com


Entre os seus ódios de estimação conta-se grande parte dos filmes ingleses de Hitchcock — exactamente por causa do seu «inadequado sentido da realidade». Foi, aliás, o seu ataque sistemático a algum cinema inglês, e em particular às produções de Alexander Korda, que esteve na origem da sua passagem de crítico a argumentista. Korda, intrigado com as cerradas críticas, quase sempre insistindo nas fraquezas de construção das personagens ou do argumento, acabou por convidá-lo a fazer o que ele dizia que os outros não faziam. No balanço que fez da sua actividade como crítico cinematográfico, Greene confessou que um dos seus poucos motivos de arrependimento era, justamente, o de não ter considerado, por desconhecimento, quanto é que um realizador e um argumentista podem sofrer nas mãos de um produtor. Mas essa é já uma outra história, a das suas relações menos pacíficas e às vezes tumultuosas com os produtores.
Apesar de mais importante no corpo da sua obra, talvez a actividade de argumentista nunca lhe tenha provocado uma declaração tão nostálgica como esta, que a sua memória de espectador e crítico lhe ditou: «Chorei pelos filmes mudos quando os sonoros apareceram e chorei pelo preto e branco quando o Technicolor veio lavar os ecrãs. Hoje, vendo o último filme sério e socialmente consistente de Monsieur Godard, tenho saudades desses desaparecidos anos 30, tenho saudades de Cecil B. De Mille e dos seus Cruzados, tenho saudades dos dias em que quase tudo podia acontecer».

Manuel S. Fonseca
Expresso 13-04-1991



Graham Greene. Inglaterra. 1951. Larry Burrows.


Graham Greene - Caso encerrado


1904 — Nasce em Berkhamsted. O seu pai dirige a escola local, e Graham passa a infância e parte da adolescência a sofrer as consequências disso: lealdade dividida entre os colegas e o pai, depressões muito fortes, tentativas de suicídio, psicanálise com certo êxito.
1922 — Inicia estudos universitários (História Moderna) em Oxford. Ainda durante o curso, dirigirá o periódico estudantil «Oxford Outlook» e começará igualmente a trabalhar em jornais civis.
1923 — Inscreve-se no Partido Comunista inglês durante cerca de três semanas. Explicaria mais tarde porquê esse acto: havia a esperança de ganhar uma viagem à Rússia. Uma explicação que é quase impossível não aceitar, conhecendo-se a vocação viajante de Graham. Muito mais tarde, porém, essa remota filiação vermelha impedi-lo-á de entrar nos EUA.
1925 — Fim dos estudos. Publica Babbling April, um livro de poesia.
1926 — Por influência da futura mulher, converte-se à fé católica. Entra no «Times» como secretário de redacção.
1927 — Casa com Vivien Dayrell-Browning, que lhe dará um filho e uma filha.
1929 — Publica The Man Within,  o seu primeiro romance. Seguir-se-ão mais de trinta.
1932 — Começa a fazer crítica literária no «Spectator». Publica Combóio de Istambul, o primeiro de uma longa série de romances «ligeiros» aos quais, por não poder assiná-los com pseudónimo, ele chamou divertimentos.
1934 — Visita a África pela primeira vez: Libéria e Serra Leoa.
1935 — Começa uma coluna regular de cinema no «Spectator».
1936 — Publica Jornada sem Mapas, sobre a viagem de 1934 a Africa.
1937 — Com Evelyn Waugh e Elizabeth Bowen, tenta lançar «Night  and Day», um equivalente britânico da famosa revista «New  Yorker».  Mas um processo judicial movido pela actriz Shirley Temple e pela 20th Century Fox obriga «Night And Day» a fechar.
1938 — Enviado ao México para investigar as perseguições a padres, recolhe elementos para O Poder e a Glória, para muitos o seu melhor livro. Entretanto, publica outro ao mesmo nível, Brighton Rock.
1939 — Escreve o seu primeiro argumento para cinema. Publica O Agente Secreto.
1940 — É nomeado editor literário do «Spectator». Entra para o Ministério da Informação. Mais tarde é transferido para o Foreign Office, onde o encarregarão de diversas tarefas, uma das quais em Africa, para os serviços secretos.
1941 — Recebe o Prémio Hawthornden. Outros prémios importantes (Legião de Honra e Prémio Shakespeare, entre outros), bem como doutoramentos «honoris causa», seguir-se-ão ao longo dos anos.
1944 — Torna-se director literário das Edições Eyre e Spottis-wode.
1945 — Volta à crítica literária, agora no «Evening Standard».
1948 — Com François Mauriac, vai à Bélgica participar numa conferência católica. Parte depois para a Checoslováquia e para Viena.
1950 — Publica romances extraídos de dois argumentos cinematográficos seus, entre os quais O Terceiro Homem.
1951-1955 — Faz inúmeras viagens — à Malásia, à Indochina, ao Quénia, ao Haiti, a Cuba, à Polónia — enviado por publicações como a «Life», o «Paris-Match» e o «Sunday Times».
1953 — Publica Ensaios Católicos, que muitos consideram o seu livro menos interessante. Escreve a sua primeira peça de teatro:  The Living Room.
1957 — Vai a Cuba, à China e à Rússia.
1858 — Após uma nova visita a Cuba, regressa a Londres para assumir a direcção das edições Bodley Head, cargo que manterá dez anos. Publica O Nosso Agente em Havana.
1959-1960 — Vai uma vez mais a Cuba, e depois ao Congo Belga, à Rússia e ao Brasil.
1961— Publica Um Caso Arrumado.
1962-1971 — Vai à Roménia, a Cuba, ao Taiti, a Goa, a Berlim, à RDA, a São Domingo, a Israel, à Serra Leoa, a Istambul, ao Paraguai, à Argentina, à Checoslováquia, ao Chile. Entretanto, publica A Sense of Reality (1963), Os Comediantes (1966), Empresta-nos o seu Marido? (1967), Collected Essays (1969) e Viagens com a Minha Tia (1969). Em 1966, vai viver para Antibes.
1971— Publica A Sort of Life (primeiro volume de autobiografia).
1973 — Publica O Cônsul Honorário.
1977 — Integra a delegação panamiana que vai a Washington assinar o tratado sobre o Grande Canal.
1978 — Publica O Factor Humano.
1982 - Publica J’Accuse, um panfleto em que denuncia a corrupção das autoridades de Nice e as ligações delas ao crime organizado. Os problemas daí resultantes acabarão por obrigá-lo a partir. Em 1990, o «maire» de Nice fugirá para a América Latina, dando assim razão às acusações de Greene.
1983 — Arthur Lundkvist, jurado do Prémio Nobel, garante que Greene só receberá essa distinção «por cima do meu cadáver».
1984 — Publica Getting to Know the General.
1987 — Vai a Santiago do Chile participar num encontro internacional de intelectuais pela democracia.
1989 — Publica O Capitão e o Inimigo.
1990 — Muda-se de França para a Suíça.
1991— Morre em Vevey, nas margens do lago Genebra.

Luís Coelho
Expresso 13-04-1991



Graham Greene (1904-1991)
Foto copiada do Expresso





(Fotos Peter Stackpole e Larry Burrows. LIFE Archive, excepto as assinaladas)


sábado, 24 de novembro de 2012

Cinemas onde vi filmes: Cinema Arco-Íris

Já tinha publicado um post sobre este cinema mas decidi dar uma volta nele depois de ter 
passado dois dias a fazer pesquisa em jornais para tentar saber quando é que ele "nasceu".

Cinema Arco-Íris, pouco antes de dar lugar ao Bar 25. 1977. Vasques.


Manuel Félix Ribeiro, no seu livro: Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa 1896-1939, não faz qualquer referência ao Cinema Arco-Íris, porque em 1939 ainda não funcionava. Mas é estranho que não faça sequer uma pequena referência a ele, quando fala do Coliseu dos Recreios. Este cinema ficava no mesmo edifício do Coliseu dos Recreios (à direita de quem entra), sei que fui lá algumas vezes (por volta de 1966/68), mas não tenho memória de como era por dentro, a não ser que era pequeno, talvez entre 100 e 150 lugares e tinha umas colunas trabalhadas depois da entrada. Já não me recordo se era um cinema de sessões continuas, mas devia ser, porque todos este tipo de salas (as muito baratas), passavam dois filmes com um pequeno intervalo entre eles. Era dos cinemas mais baratos da baixa a par, com o Galo por baixo do Éden, do Olímpia e do Arco Bandeira e os filmes que passava eram geralmente de aventuras, coboiadas, etc, mas eram os que eu gostava com 12 ou 13 anos. Fiz uma busca na net para saber alguma coisa sobre como surgiu este cinema, mas não há grande coisa, a não ser em alguns blogs, dizendo que surgiu nos anos 40. Esta informação deve ter sido deduzida do facto de Félix Ribeiro não fazer referência a ele até 1939. Depois, fiz uma busca no cartaz dos cinemas de alguns jornais de Lisboa, e o Arco-Íris não aparece até aos anos 60. 


Esta é a primeira referência ao Cinema Arco-Íris no cartaz diário do Diário de Lisboa. Foi a 3 de setembro de 1960. O mais certo é ter começado a funcionar por volta desta data, porque os cinemas não pagavam nada por isso e tinha todo o interesse em serem mencionados no cartaz de um jornal diário.


Anos depois, talvez por volta de 1980, quando trabalhava como mecânico de máquinas da industria hoteleira, calhou ser eu a ir lá montar várias máquinas de hotelaria, quando este espaço se transformou no célebre Bar 25; era um Peep-Show, onde a troco de moedas de 25 escudos (aquelas grandes), se podia ver umas miúdas a despirem-se ou já despidas, dai o nome, como estive lá cerca de uma semana a montar (as máquinas), via entrar e sair as miúdas (eram bombas andantes) que iam lá fazer audições no 1º andar (nem uma audição vi), sei que foi um grande sucesso que durou alguns anos (era o primeiro em Portugal), depois tornou-se um café, foi livraria e venda de discos e agora não sei o que é, porque é raro ir a esta rua (de dia) a não ser para ver algum espectáculo no Coliseu à noite.


 Cinema Arco-Íris. 1960. Arnaldo Madureira. E Cinema Arco-Íris. 1966. Garcia Nunes.


Cinema Arco-Íris. 1966. Garcia Nunes.


Em 2007, o espaço do Arco-Íris e do Bar 25 era um restaurante. 
Foto copiada da revista Visão.


(Fotos do Arquivo Fotográfico da CML)




quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Cinemas pelo mundo fora 2


Uns já não existem e outros ainda duram e duram



Astor Theater, Nova York, EUA, 1946. Andreas Feining. Foto LIFE Archive.

Filme sendo projectado num pano, na parede de uma mesquita na aldeia de Halhul na estrada de Hebron, 
na Cisjordânia, hoje sob ocupação de Israel, na altura pelos ingleses. 1940. Foto Library of Congress, EUA.

O Empress Theatre em Montréal, Canada, 1982. Foto Wikipedia.org

Million Dollar Theater, construído em 1918. Los Angeles, EUA. 1995. 
Foto de Smithsonian Institute.

Paramount Theater em Hollywood, público assistindo a um filme 3-D. 
1952. EUA. J. R. Eyerman. Foto LIFE Archive.

Público assistindo ao filme "Beyond the Valey of the Dolls", num drive-in 
em São Francisco, EUA, 1970. Arthur Schatz. Foto LIFE Archive.

Cinema Capitol em Bucareste, Roménia. Foto Panoramio.

Cinema Royal em Amsterdão. Holanda, 1976. Foto gahetna.nl 

Cine Teatro La Emília em Buenos Aires, Argentina. Foto pifiada.blogspot.pt

Viejos Cines Olvidados em Espanha. Foto www.dipity.com

Charlton Heston abrindo as águas num drive-in em Salt Lake 
City, EUA. 1958. J. R. Eyerman. Foto LIFE Archive.

Cine Teresa na Cidade do México. México. Foto www.skyscrapercity.com

Cine Diamante em Lima, Perú. Foto www.s245637133.onlinehome.us

Cinema Aegidium (entrada?) em Bruxelas, Bélgica. 
Foto de Tijl Vereenooghe em www.flickr.com

Cinema Aegidium (sala) em Bruxelas, Bélgica. 
Foto de www.kurtjacobsphotography.com

Cinema Aegidium (interior) em Bruxelas, Bélgica. 
Foto www.flickriver.com

Cinema África em Asmara, Eritrea. 
Foto www.asmera.nl

Astor Theater, Nova York, EUA, 1944. 
Peter Stackpole. Foto LIFE Archive.

Cinema Miami e Metro no Cairo, Egipto, 1946. 
www.flickr.com

Theatre S. H. Dudley. 1938. Washington, EUA. 
Foto de Smithsonian Institute.