sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942


No ano em que Orson Welles chegou ao Brasil para filmar "It’s All True" Ver Aqui: Orson Welles (É Tudo Verdade), vinha acompanhado do fotógrafo da LIFE, Hall Preston, que fez as fotos da estadia de Orson Welles e também uma extensa série de fotos sobre o Carnaval no Rio de Janeiro de 1942, isto é, no meio da 2ª guerra mundial. Nesse ano o samba vencedor do carnaval foi "Praça Onze", escrito por Grande Otelo e com música de Herivelto Martins. Assim se faz o Brasil.



Texto da reportagem da Life Magazine 1942.



Praça Onze, o melhor samba do carnaval de 1942. 
Música de Herivelto Martins e letra de Grande Otelo*

Em 1941, quando ficou sabendo da intenção da prefeitura de demolir a Praça Onze, abrigo dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, Grande Otelo indignou-se e escreveu versos românticos e tristonhos sobre o fato. Então levou a letra para músicos como Wilson Batista, Max Bulhões e Herivelto Martins, a fim de que a musicassem. Nenhum deles se interessou muito, mas o azar de Herivelto era que ele o via todo dia, pois os dois trocavam-se juntos no Cassino da Urca. Herivelto dizia que não cabia samba naquela letra, pois o que Otelo tinha escrito era um romance, com versos do quilate de “Oh Praça Onze, tu vais desaparecer”. Eis que devido à insistência diária do noviço compositor, Herivelto irritou-se e começou a cantar de improviso versos sambados, dizendo para o humorista: “O que você quer dizer é isso: vão acabar com a Praça Onze, não vai haver mais escola de samba, não vai...”, Otelo empolgou-se e começou a escrever ali mesmo os outros versos da canção, enquanto Herivelto tocava a melodia no violão. Quando ficou pronta, a música foi gravada pelo Trio de Ouro com a companhia de Castro Barbosa, e trouxe na execução uma novidade inventada por Herivelto e que fez grande sucesso entre os foliões, o uso do apito para dar ritmo. Todos que sentiam a perda da Praça cantaram e dançaram na avenida a música que dividiu o prêmio de melhor samba do ano de 1942 ao lado da clássica “Ai que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago. Grande Otelo ria como fazia rir, apesar da tristeza pela perda da praça, ele conseguiu o que queria.  
(Raphael Vidigal Aroeira em aforcaqnuncaseca.blogspot.pt)
* Grande Otelo, participou no filme de Orson Welles e foi um dos seus companheiros de  farra, durante a estadia no Brasil.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.




Orson Welles foi enviado numa missão ao Brasil em fevereiro de 1942, a pedido de Nelson Rockefeller (então, o coordenador de Assuntos Interamericanos e o maior acionista na RKO), para fazer um filme não-comercial, para apoiar o esforço de guerra como parte da Política da Boa Vizinhança. Welles filmou o Carnaval do Rio de Janeiro em Technicolor e em preto-e-branco. Este era para ser a base para "A História do Samba", um segmento do seu filme inacabado “It’s All True” (“É tudo verdade”).

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.


O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

O Carnaval no Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

Orson Welles, filmando o Carnaval do Rio de Janeiro em 1942, fotografado por Hall Preston.

Orson Welles, "passado dos carretos" no Carnaval do Rio de Janeiro em 1942. Hall Preston.





(Fotos de Hall Preston e LIFE Magazine)





quinta-feira, 28 de junho de 2012

Portugal por volta de 1900-1920


Coimbra, vista geral e lavadeiras no Mondego. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.  

Assim se faz Portugal



De Charles Chusseau-Flavies pouco se sabe, o fotógrafo francês terá trabalhado entre 1890 e 1910. Consultando a parte do seu trabalho que se encontra na George Eastman House, parece tratar-se de um dos primeiros repórteres fotográficos freelancer. Viajava com facilidade e tinha acesso a várias famílias reais europeias. Tinha também grande facilidade em fotografar quartéis e militares em exercício assim como o respectivo armamento, o que fez em vários países da Europa. Fotografava com muita frequência, cenas do quotidiano e fazia levantamentos etnográficos. Os ciganos na Roménia, negativos de alguma raridade e algumas vivências na Argélia, Marrocos e na Turquia, onde também adquiriu originais a (Sebah & Joailler), importante firma estabelecida em Constantinopla. Percorreu a maioria dos países da Europa. Da colecção, uma das maiores da George Eastman House, fazem parte mais de 11.000 negativos em vidro. O conjunto foi entregue à Casa George Eastman pela Kodak Pathé em 1974. É provável que seja apenas parte da sua produção como fotógrafo isto porque, se atentarmos ao número de chapas em vidro feitas em França, uma insignificância, por exemplo da Exposição Universal de 1900 em Paris apenas se conhecem 2 chapas, leva-nos a suspeitar que a colecção na posse da George Eastman House não representa todo o seu trabalho. 

(Excerto do texto, da  Associação Portuguesa de Photographia) Ler todo o texto aqui


Convento de Mafra. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.

Castelo de Almourol. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.
Castelo de Almourol. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.
Coimbra, entrada principal da universidade. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.

Coimbra, ponte sobre o Mondego. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.
Coimbra, vista geral. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920. 
Marvão, estação de comboios. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.  

Ponte de Santarém. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.  

Cacilhas. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.  

Tomar, convento de Cristo. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.  

Alenquer, vista geral. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.  

Setúbal, vista geral. Charles Chusseau-Flavies, 1900-1920.  


(Fotos de Charles Chusseau-Flavies e George Eastman House)





terça-feira, 26 de junho de 2012

Marilyn Monroe e o futebol


Durante a tarde descobri mais tres fotos deste evento e decidi colocá-las, tudo para bem da nossa seleção. O jogo era entre as selecções dos Estados Unidos e de Israel, para comemoração do dia da independência de Israel, mas como Israel não tinha selecção, jogou toda a equipa do Hapoel de Telavive. Tudo isto segundo o jornal de Israel; Jerusalem Post, mas creio que se enganaram na data, porque dizem que foi em 1957.


Marilyn Monroe, preparando-se e dando o pontapé de saída do jogo de futebol entre EUA-Israel, no estádio dos Brookyn Dodgers em Nova York, 1959. Fotos de Bob Henriques, em piscoiso.blogspot.pt e www.claudioversiani.com.br


Marilyn Monroe, dando o pontapé de saída, visto de outro ângulo.  
Foto de Bob Henriques, encontrada em www.kckrs.com.

Marilyn Monroe no estádio, com o capitão e guarda-redes de Israel, Hodorov. Fotos de Bob Henriques, encontradas em ivegotthemeanreds.tumblr.com e www.jpost.com

Marilyn Monroe com o capitão e guarda-redes de Israel, Hodorov. 
Foto de Bob Henriques, encontrada em inventfootball.com.

Marilyn Monroe, aclamada pela multidão no jogo de futebol entre EUA-Israel, no estádio dos
Brookyn Dodgers em Nova York, 1959. Foto de Bob Henriques, encontrada em jaysin.tripod.com.



domingo, 24 de junho de 2012

A Vida na Quinta da Calçada


A Infância da minha irmã Isaura




«Naquele tempo não sabíamos o que nos faltava porque 
não tínhamos conhecimento do que existia.»



Isaura com 3 anos.
Com 4 anos mais o Avô.
Nasci em Lisboa (Pote d’Agua), a 7 de Dezembro do ano de 1947 (mas fui registada na freguesia da Charneca do Lumiar como tendo nascido no dia 10), era Domingo. Sou a segunda filha de seis irmãos: a Emília mais velha cinco anos, a Lena mais nova dezassete meses, o João (já falecido) mais novo cinco anos, o Francisco mais novo sete anos e o Carlos, mais novo nove anos - o mais novo de todos. Ajudei a minha mãe junto com as minhas irmãs a criar os mais novos, pois ela trabalhava como doméstica o dia todo, só saía quando tudo estivesse pronto, muitas vezes eu e as minhas irmãs tínhamos de fazer o jantar e tratar dos mais novos. Quando eu tinha quatro anos (1951) fomos morar para um Bairro Social da Câmara Municipal de Lisboa, que ficava situado entre o Hospital de Santa Maria e a actual 2ª circular, chamava-se Bairro da Quinta da Calçada e pertencia à freguesia do Campo Grande.





 Bairro da Feiteira ao Pote de Água em 1940; hoje é o parque José Gomes Ferreira, no fim da Avenida do Brasil à direita.

 Bairro da Quinta da Calçada em 1939.


No meu bairro havia uma escola para rapazes e outra para raparigas; um centro social, onde tínhamos actividades (ATL) depois das aulas e onde aprendíamos a fazer renda, croché, tricô, bordar, etc., a monitora era a assistente social D. Elisa; uma creche; um jardim infantil; um posto médico; uma capela e o edifício da Praça (onde estavam situados: o talho, a padaria, a mercearia, o lugar da fruta e legumes, a peixaria e até capelista e retrosaria). Não era quase necessário sair do bairro, a não ser para ir trabalhar ou passear. Eu brincava com os meus irmãos e as outras crianças do bairro, fazíamos os jogos da época (cabra-cega, peão, caricas, berlindes, escondidas, saltar à corda, aos pais e às mães, entre outras brincadeiras).


 O Infantário em 1940, com o centro social (ATL) ao fundo e Helena e Isaura no infantário.


Deste tempo lembro-me e tenho saudades das brincadeiras com a minha mãe, que apesar de trabalhar muito e ter seis filhos para tratar ainda tinha paciência para brincar connosco, e dos Domingos, dia em que os meus pais nos levavam muitas vezes para o Jardim Zoológico. A minha mãe fazia comida que pudéssemos comer na mata que existia nesse tempo no Jardim e lá passávamos o dia a brincar e a ver os animais. Também nos levavam à praia (Algés), mas era mais complicado porque éramos muitos e os transportes caros, porque era longe. Íamos também algumas vezes ao aeroporto de Lisboa, ver os aviões a chegar e a partir, era muito divertido, ficávamos na varanda e assim passava o dia de domingo. 


Helena, Emília e Isaura brincando ao Carnaval em 1957 ou 1958.

Porque faço anos em Dezembro, entrei para a escola primária (Escola Primária nº 121) ainda com seis anos. A minha primeira professora, D. Possidónia, era uma mulher azeda, todas tínhamos medo dela porque ela batia nos alunos com a régua e a cana, a mim nunca me bateu. Eu gostava muito de andar na escola, tínhamos um refeitório, onde almoçávamos sopa, um prato de qualquer coisa e uma colher de óleo de fígado de bacalhau (vitaminas). A segunda professora, D. Constança, lembro-me de ser uma mulher alta, loura e bem vestida, mas não estava para se preocupar muito em nos ensinar e então mandava as que estavam mais adiantadas ensinar as mais atrasadas com trabalhos que ela escrevia no quadro. 


Foto de parte da escola das raparigas em 1977.

A mim uma vez coube-me corrigir o ditado da minha melhor amiga da altura (Arlete) que tinha dado catorze erros no ditado e eu tinha de lhe dar catorze reguadas, eu não tive coragem de lhe dar as reguadas e então a professora deu-me as catorze reguadas a mim, fiquei vários dias com bolhas nas mãos (o perfil dela era este), até hoje eu tenho falado várias vezes sobre este episódio. Entretanto com tantas queixas das mães foi-se embora e veio a minha última professora da escola primária, a D. Fausta, eu gostava muito desta professora, era uma senhora já com idade para ser nossa avó e tinha muita paciência, dizia muitas vezes à minha mãe que era uma pena eu não poder continuar a estudar, mas na altura não podia ser porque só os meus pais e a minha irmã mais velha ganhavam dinheiro para o nosso sustento.


Isaura com 4 anos a fazer de anjo e com 6 anos na colónia balnear.


Durante o tempo em que andei na escola as aulas eram só de manhã, almoçávamos na escola e depois íamos para o Centro Social (ATL), onde ficávamos (as que queriam) até mais ou menos às cinco horas da tarde a fazer trabalhos manuais ou a ensaiar qualquer peça de teatro para apresentarmos na escola. No ATL aprendíamos a fazer croché, a bordar, a fazer malha, a representar. O teatro fazia-me sonhar, as personagens encantavam-me. Participei em várias peças de Teatro da escola, numa lembro-me de fazer de flor num jardim, era o “Goivo”; numa outra de Nossa Senhora no Presépio e ainda numa outra em que cantava (ainda hoje me lembro da letra). Nas férias íamos para a colónia de Santo Amaro de Oeiras durante um mês, mas eu não gostava muito porque nos obrigavam a tomar banho de mar e eu tinha medo das ondas (até hoje não consegui nadar, pois tenho pavor das ondas) mas gostava de ter aprendido.


Isaura e Helena a fazerem de anjos numa procissão.

Do meu tempo de criança lembro-me que no meu bairro uma vez por ano havia a procissão da Nossa Senhora de Fátima, e então os andores das imagens da nossa igreja percorriam as ruas principais do bairro com os homens a pegarem nos andores e as pessoas a acompanharem a procissão, eu e a minha irmã mais nova íamos vestidas de anjo. Nessa altura andava na catequese, todos os domingos tínhamos de ir à missa, fiz a primeira comunhão e o crisma, era um tempo bonito. Lembro-me também de, mais ou menos por 1954/56, nevar em Lisboa, as ruas do meu bairro ficaram todas brancas, eu e as outras crianças fomos escorregar na neve (foi lindo). Foi uma infância feliz apesar das dificuldades que os meus pais tinham para nos criar, pois éramos muitos e com idades muito aproximadas, eles sim passaram muitas necessidades.
A minha adolescência (a história conto mais tarde) desenvolveu-se no mundo do trabalho, para o qual entrei cedo demais, com 11 anos. Fui para aprendiza de modista.
Apesar de me lembrar com carinho desta época, também me vêm as lágrimas aos olhos, por ter sido uma vida dura, começávamos muito cedo a saber o que custava viver (sobreviver). Mesmo assim nos dias em que chegava mais cedo a casa ia brincar com a minha irmã mais nova e a nossa colega de brincadeiras, a Olga, que morava na nossa rua. Brincávamos às mães com três bebés que também moravam na nossa rua, que eram a Zita, a Anita e a Irene (hoje já são avós). Elas eram as nossas filhas e assim ajudávamos as mães delas a tratarem da casa, pois também trabalhavam o dia todo e ficavam todas contentes por nós as entretermos. Naquele tempo não sabíamos o que nos faltava porque não tínhamos conhecimento do que existia



A adolescência vinha aí, mas essa fica para contar noutra altura.



(As fotos não assinaladas são do Arquivo Fotográfico da CML)