segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Luna Parque


de 
Mário-Henrique Leiria


Recordo-me perfeitamente. Era esplêndido, ir aos sábados ao Luna-Parque com a família. Logo à entrada havia uma série de barracas de tiro ao alvo, com meninas simpáticas a chamar pela gente. Foi aí que o primo Rodrigo, ao disparar com o canhão de 12, se enganou e ficou sem a cabeça. Havia também carrinhos com amendoins, sorvetes e aquele algodão de adoçar que nos deixava todos lambuzados. Sopeiras e magalas aos pares, de mão dada, a olhar para tudo. Vejam lá há quanto tempo isto foi! 
E a Montanha Russa! Ah, a Montanha Russa, como eu gostava de andar nela! Um sábado íamos todos na Montanha Russa. No meio do entusiasmo, o tio Leocádio deu um empurrão à avó Amália, lá mesmo no alto da maior subida. Sem querer. Esborrachou-se toda cá em baixo, pobre avózinha. Tivemos pena. Era realmente divertido. Nessas tardes fartava-me de comer tremoços e até bebia o meu pirolito. E o papagaio que tirava a sina, lembram-se? Metiam-se dez tostões numa caixinha e o papagaio lá ia com o bico, zás, buscar a nossa sina. Como era engraçado!

Mário Henrique-Leiria. Retrato do Artur Cruzeiro Seixas, 1949. Tinta-da-China sobre papel.
Doação Cruzeiro Seixas, coleção Fundação Cupertino de Miranda. Foto encontrada na net.


No Comboio Fantasma foi-se o tio Geraldo. À saída, quando as portas se abriram e nos libertámos daquela escuridão medonha onde toda a gente dava gritinhos, demos por falta dele. O meu pai disse-me discretamente que devia ter sido um esqueleto que o apanhou. A verdade é que nunca mais o vimos. Mas divertido, divertido mesmo, era o Grande Chicote. Levava-se cada safanão!
Os carros batiam uns contra os outros e fartávamo-nos de rir. O Zézito, o filho da tia Josefa, levou um safanão tal que partiu a espinha. Era bom. Que saudade! 
Depois comiam-se também umas farturas e eu até tinha direito a um copinho de abafado. Quando chegava Outubro, com a melancolia das primeiras chuvas e as folhas douradas começando a cair das árvores, o Luna-Parque fechava e eu ficava já a pensar no ano seguinte. Então o meu pai fazia as contas. Além de nós ali em casa, ainda sobrava o tio Inácio do Ministério, o primo Jerónimo que estava no Brasil, a prima Josefina que depois casou com o Clarimundo da Fonseca, devem estar lembrados, e mais alguns. A famíla, por esses tempos, era grande, graças a Deus. Há quantos anos! Como o tempo passa! 
(In, arrozaldalebre.no.sapo.pt)




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